quinta-feira, 13 de novembro de 2014


Publicado em 11/11/2014 | 
Dois elementos podem definir o epicentro dramático de Amorexia, peça dirigida por Thadeu Peronne: o amor enquanto derrota, a vida como um violento absurdo. Por quase uma hora, a montagem trouxe, a partir de textos do dramaturgo Douglas Daronco, uma visão fantasmagórica dos desdobramentos afetivos, onde o amor é um catalisador de atritos, desequilíbrios e perversões.
Em cartaz
Amorexia
Teatro Sesi – Portão (R. Padre Leonardo Nunes, 180, Portão), (41) 3322-6644. Sextas-feiras, às 20 horas; sábados, às 18h e às 20 horas; e domingos, às 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Até 30 de novembro. Classificação indicativa: 12 anos.
O mundo encenado é aparentemente contrastante, da iluminação soturna ao cenários de aspectos vaudevillescos. Em um ambiente orgiástico de cabaré, três atores narram histórias em que o macabro surge como protagonista. Em “Da Natureza dos Peixes”, uma filha obesa mata os peixes do aquário por excesso de comida e passa a ser humilhada, de diversas formas, por um pai bêbado e uma mãe ausente. “Às Cegas” trata da vida de duas irmãs com deficiência visual. Elas relatam a chegada de um homem desconhecido, que as estupra regularmente. Já “Ferida” conta as dores de uma filha diante de um padrasto que a abusa sexualmente, com consentimento da mãe.
A estética da dilaceração de Daronco e a ausência de saídas poderia muito bem descambar no absurdo e no distanciamento – vemos e não nos representamos. Entretanto, o que mais confere força ao panorama de ares grotescos é, excetuando os extremos, o seu potencial catártico: não há romantismo, há perda de individualidade. Não há serenidade, apenas destruição emocional.
Se o homem parece sempre acuado e a mulher é eternamente invadida, não deixa de ser coerente uma montagem que explore a androginia, levando-a a consequências ainda mais surpreendentes. É o amor rompendo os gêneros, sufocando a beleza e desembocando num lugar bem escuro, possivelmente uma boa parte de nós mesmos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário