terça-feira, 14 de agosto de 2012

COLD MEAT PARTY - FESTA DO PRESUNTO
Crítica de Annalice Del Vecchio para Caderno G Gazeta do Povo
Dir. Thadeu Peronne e Mazé Portugal
2009

“O texto é ousado e desfere agulhadas certeiras em comportamentos conservadores em relação ao sexo, ao homossexualismo e a doenças como a aids e o câncer. Com uma sintonia impressionante, os atores enfrentam o desafio
de subverter a velha moral, apelando para diálogos rápidos, ácidos e, ao mesmo tempo, intensos. (…) não falta criatividade e ousadia na composição das cenas, na escolha da trilha sonora (com músicas dos anos 80) e do belíssimo cenário. “
Annalice Del Vecchio para o Caderno G, Gazeta do Povo 2009
http://cacilda.folha.blog.uol.com.br/arch2009-01-25_2009-01-31.html#2009_01-31_10_21_21-11668060-0

FESTIVAL DÁ VISIBILIDADE A PESQUISA TEATRAL
  Em meio à profusão de propostas do Festival de Curitiba, duas se destacam, ilustrando o que de melhor se espera daquele que se apresenta como "o maior evento das artes cênicas brasileiras". Antes de tudo, por atrair grupos do Brasil inteiro, aqui se espera encontrar notícias de grupos "fora do eixo" que dêem provas de maturidade e competência em contar sua cidade para o mundo. Neste quesito, este ano se destacou o Coletivo Angu de Teatro, de Recife, com o espetáculo "Angu de Sangue".
Alinhavo de contos de Marcelino Freire, transformados em dez monólogos interligados por recursos diversos um pouco a esmo – cantos, projeção de vídeo, teatro de animação – o espetáculo atinge um resultado marcante por várias razões. Primeiro, o texto de Freire tem um humor certeiro e cruel, que expõe a intimidade de Recife como um espelho do país: uma miséria que se insurge orgulhosa, quase triunfante, contra uma ambígua classe média. O diretor Marcondes Lima soube dar uma uniformidade ao elenco, sem espaços para estrelismos, dando assim solidez ao grupo, no qual no entanto se destaca o grande carisma de Gheuza Sena.
Tateante às vezes, há no espetáculo cenas antológicas como o estupro de uma criança narrado através de uma manipulação de boneco, com grande força e delicadeza. Assim, com a inventividade da encenação amenizando a dor do contato com o real, e o humor do texto afiado como um bisturi, a pústula da miséria irrompe como uma epifania.
Em outro quesito, o Festival possibilita que atores que estudam uma linha de pesquisa com paciência e abnegação consigam um momento de visibilidade. É o caso de Thadeu Peronne, ator premiado em Curitiba que foi se lapidando no teatro de rua, na commedia dell’arte e no CPT de Antunes Filho. Em "Os Bobos de Shakespeare", aproveita um texto bastante simples, quase uma antologia de frases, para propor uma reatualização da ancestral técnica do bobo – um fascinante subuniverso da obra shakespeareana, entre clown, mais elaborado, e o bufão, mais cruel.
Logo no início, mostra que domina a técnica do gromelot, língua imaginária, espécie de retórica abstrata que prepara a platéia para os floreios do texto. Em seguida, busca a forma mais adequada para o conteúdo de cada citação, indo do arquétipo do coringa do baralho até os bobos contemporâneos. Entre eles, faz uma rápida e respeitosa menção à figura da dragqueen, em um personagem feito sem deboche fácil, mas que acaba ‘vazando’ para as outras caracterizações. Com uma direção limpa, embora um pouco ingênua, e maquiagem premiada, é um espetáculo que merece atenção, pela seriedade da pesquisa.



Escrito por Sérgio às 12h20
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